Drops de Pimenta - Versão do Diretor

Friday, July 24, 2009

EU LI A CABANA. O MUNDO ESTÁ A CABANO.

Li sim e demorou mais do que gostaria. Quando ganhei o livro procurei por reflexo o selinho de troca e não encontrei. Confiei na minha estultice e procurei de novo. Nada. E o instinto leitor passou por cima de meus pruridos literários, junto com o prazer em destroçar´o plástico que envolvia o volume.

Resolvi consumir o bestseller mesmo desconhecendo a princípio esse status. Diz-se que esse tipo de livro é uma fábula, pois usa alegorias para passar uma dita mensagem. No caso, uma visão aparentemente cristã do mundo pequeno burguês.

Um homem classe média leva seus filhos pra acampar e numa distração deixa a menorzinha ser raptada por um maluco e assassinada. O vestido ensanguentado da pequena é encontrado n'A cabana. Uma "Grande Tristeza" se abate sobre o homem medio americano do norte e se passam-se alguns anos. Então ele recebe uma carta de Deus ou "Papai" o chamando de volta á Cabana onde ele se encontra com o próprio, além de Jesus e o Espírito Santo. Durante o final de semana aprende através de papos-cabeça a não se culpar pela morte da filha e compreender Deus como um Papai amoroso. Fim.

O livro não passa de uma Apresentação PowerPoint encadernada.É automático, muitíssimo repetitivo e gira em ponto morto. Nada que me espantasse, acredite. O que me incomoda aliás é esse discurso Igreja Universal que me cheira pior qu e o ateísmo.

E é o livro preferido do Kaká.

Tuesday, July 21, 2009

PAUVRETÉ D'ESPRIT:

O corintiano Eudâmidas tinha dois amigos: Charixênio de Licíon e Areteu de Corinto. Era pobre e eles ricos. Às vésperas de morrer, assim redigiu seu testamento: “Lego a Areteu o cuidado de tomar conta de minha mãe e suprir-lhe as necessidades durante a velhice; a Charixênio a obrigação de desposar minha filha e constituir-lhe um dote tão elevado quanto possível. No caso em que um deles venha a morrer, lego sua parte ao outro.”

Michel de Montaigne: Da Amizade.

Sunday, July 12, 2009

COMPÊNDIO JURÍDICO, SEGUNDO TOMO:

"As Leis no Brasil são para os inimigos. Logo, ninguém aqui se preocupa em cumpri-la. Aqui, a preocupação de quase todo mundo é fazer amigos. Assim, estará protegido contra todas as leis. Se você é flagrado dirigindo em alta velocidade, assaltando um banco ou matando sua mãe, tudo será relevado se o "flagrador" já tiver bebido uma cerveja - ou duas - com você, fato que os tornam amigos íntimos. É isto o Brasil. Por que o Brasil não vai pra frente?! Por isto. Excesso de gente boa."

É fácil fazer sucesso. É só dizer o que a classe média quer ouvir. Fazer o que a classe média sonha. Falar o que a classe média pensa. Ao realizar os sonhos da classe média, o artista é venerado por ela porque é seu porta-voz, é admirado pelos pobres porque o sonho do pobre é ser classe média e pelos ricos porque os ricos gostam de passar por classe média de vez em quando para se sentir "gente". Esse tipo de artista não produz arte, produz secos e molhados. Um artista que diz o que alguém quer ouvir é só um palhaço. Ou uma prostituta. Não há nada demais com as duas profissões, mas não são artistas.

O bom prestador de serviços é aquele que odeia o serviço que faz e além disto seja bem preguiçoso. Quem odeia o que faz, fará tudo muito bem feito para que seja a única vez que tenha que fazer. Por exemplo, um dentista que adora arrancar dentes, vai querer deixar os pacientes, como diz o Didi Mocó, com a boca careca. Um advogado que adora sustentar tese perante as câmaras, fará tudo para levar o cliente a juízo. Um micreiro que adora instalar sistema operacional, deixará sempre, mesmo inconscientemente, um cavalo-de-tróia ou um serviço mal acabado para poder voltar a instalar tudo de novo. Da próxima vez, pergunte ao seu encanador "você gosta desse serviço de arrebentar paredes e colar canos?", se a resposta for afirmativa, chame outro.

OU O BRASIL ACABA COM O DIREITO ADQUIRIDO OU O DIREITO ADQUIRIDO ACABA COM O BRASIL
Precisamos dizer de verdade por que o Brasil não vai para frente e onde está a verdadeira concentração de renda. Conta-nos o Elio Gaspari, que o presidente Lula, por exemplo, foi preso durante a ditadura militar por 31 dias e caçaram seu mandato de sindicato. Por isto, ele recebe quase 4 mil reais por mês, para sempre, isto é, o constrangimento que passou em 1980, resultante de sua ideologia política, lhe deu o direito a que a sociedade brasileira o sustentasse vitaliciamente. No Chile, teria tido uma pensão de pouco mais de 500 reais. O exemplo de Lula não é único nem o mais calamitoso. O fato é que o povo brasileiro é extorquido pelo Estado brasileiro em bilhões de reais todo mês a fim de manter bocadas como essas. Desse tipo de concentração de renda os esquerdistas não se lembram e tome culpar o capitalismo e a globalização pela situação de miséria de muitos de nossos concidadãos. A verdade é que ou o Brasil acaba com o direito adquirido ou o direito adquirido acaba com o Brasil.

By Cesar Miranda in Pro Tensão.

Saturday, July 04, 2009

COMPÊNDIO JURÍDICO:

"O esforço intelectual de apreender toda a ciência jurídica é o mesmo de se manter acordado durante o discurso de um senador paraibano.
Se todo mundo acha que há trabalhos manuais inumanos, por que ninguém acha que há trabalhos intelectuais inumanos? Algum dia robôs liberarão a mente humana da necessidade de tomar conhecimento de qualquer artigo ou inciso da CF/88? Qual a diferença em termos de felicidade humana entre ler qualquer artigo ou inciso da CF/88 e trabalhar numa mina de enxofre? Onde está o Sebastião Salgado para tirar fotos cheias de pathos e luz e sombra de advogados frequentando varas cíveis, comendo pastel de palmito etc? "

"Em qualquer profissão é assim – advogados medíocres se esforçam para pensar como advogados e a parecer com advogados, ter hobbies de advogados e mulheres com cara de mulheres de advogados, com filhos de advogados (preferencialmente) e cachorros de advogados."

"Fui servir de testemunha esta semana no processo trabalhista de um amigo. Eu e outras duas testemunhas não fomos chamados para dentro da sala de audiência (chamada de “berçário”, porque se pode espiar para dentro através de uma parede de plástico transparente). Durante três horas ficamos sentados numa salinha, no décimo segundo andar de um edifício no centro, suando e ridicularizando o juiz. A ignóbil outra parte estava do lado de fora da salinha de espera, junto do elevador, fumando. Eles espiavam pela porta de vez em quando, muito embaraçados para entrar na mesma sala em que nós estávamos.Eu não tinha nenhum livro comigo, e como a conversa (sobre palestinos e judeus e a língua hebraica) havia morrido, fiquei observando os advogados à minha volta. Um homem gordo de terno bege amassado, com uma expressão esperta e baixa de Barão Vladimir Harkonnen, lendo uns papéis com óculos de leitura na ponta do nariz. De vez em quando dava uma ordem em voz rouca aos dois sujeitos “humildes” que estava representando. Uma mulher jovem vestida de amarelo-orquídea, que em certo momento disse “as pasta”. Uma mulher amarga de rosto amassado. Um homem de terno azul cobalto, cabelo puxado pra trás com gel, dando uma impressão de pastor evangélico ansioso sendo apresentado ao pai da namorada. Outro gordo de terno bege amassado (advogados adoram ternos bege amassados), de rosto vermelho e usando uma bengala. Uma sala cheia de advogados não é uma visão bonita. Eles se vestem mal. Carregam todos a mesma pastinha de couro mole. Dizem “outrossim”. E há também a atmosfera espiritual: cheirando a Lyons Club e canal de televendas, churrascaria e futebol society. Não é à toa que quase todos os grandes escritores do século dezenove (Balzac, Tolstoi, Dickens, Galdós) não só odiavam advogados, como abandonaram o curso, ou o estágio, logo no primeiro ano (isso foi notado pela primeira vez pelo crítico C.P.Snow, que também notou que esses escritores todos eram baixos, banguelas, e ruins de matemática - mas isso é outra história). Meu ponto é: se os gênios abandonam os cursos de direito logo no primeiro ano, segue-se que as pessoas que terminam o curso são... Ah, os futuros senadores e presidentes de time de futebol...Gente assim, grandes notáveis... "

Alexandre Soares Silva.

SORRISO MAROTO:

A falta de pudor coletiva fez com que as propagandas de dentadura fossem não apenas liberadas mas escancaradas com estupor nos programas voltados às donas de casa desesperadas. O argumento de que um sorriso é suficiente para enfrentar a vida, em termos chulos de Chico Lang, Claudete Troiano ou Kátia Fonseca, aparece sempre.

O sorriso da alma que me invade não poucas vezes a cada dia não é percebido pelos transeuntes mas é tanto mais forte quanto mais pareço bravo, enfezado, com minha sobrancelhas bastas e unidas e meu olhar duro de quem está prestes a derrubar uma reputação com um comentário.

Meu riso é minha personalidade e é muitíssimo mal compreendido. Mas me orgulho dele e o prefiro à ingenuidade. De achar que ganharia medalha nos torneios de caratê e ficar com cara de choro. De me pôr a competir no salto em distância. De tentar me cercar de outros para jogar futebol e fazer música e sofrer.

Me sobrou o deboche e formamos uma duplinha firmeza. Quando nosso time ambicioso se comportava de forma improvável e dava vexame, levando ensacadas infindas de gols nem planejados, eu achava tudo aquilo naturalmente engraçado.

Fui repreendido com rancor por não sofrer por besteiras. Desrespeitei a tragédia evidenciando o nonsense. What a poor bastard.

A única defesa contra a tirania. Não é a MPB. Dá mais prazer que abaixo-assinados e movimentos estudantis, se é que isso é possível. O sorriso que não é só irônico mas de compaixão com a nossa desgraçada patetice. Eu disse nossa. Minha, sua, do Oscar Wilde, do Diogo Mainardi, do Evelyn Waugh, do Alexandre Soares Silva, do Eça, do Machado, do Balzac. Sabemos que somos apatetados mas devemos insistir nesse ponto.

Pois e daí se a gripe do Sarney Iraniano nao puder participar da Libertadores do ano que vem por ter caído no meio do oceano Michael Jackson?