Drops de Pimenta - Versão do Diretor

Thursday, November 26, 2009

SEI COMO É, JOÃO PEREIRA COUTINHO. SEI SIM.

REGRESSO A CASA. Chego ao Porto pelas dez da noite e o jogo está terminado. O Porto venceu, sei que venceu pelas conversas no comboio - mas ao desembarcar na estação enfrento a evidência da vitória: um céu iluminado por fogo solto, alegria nas ruas, carros que não se calam e uma multidão afonicamente enlouquecida que grita do fundo mais fundo da alma. A cidade está em festa e eu, portista moderado, devia estar em festa. Talvez esteja. Talvez esteja e nem saiba. O problema, se de uma problema realmente se trata, é pensar no meu pai e na forma genuína - e genuinamente feliz - como ele brindaria à vitória do seu clube, que acabou por ser o meu e que um dia acabará por ser o clube dos meus. Acontece que o meu pai já cá não está e este dia, como todos os dias felizes, transforma-se rapidamente numa alegria amarga. Ao contrário do que por vezes se pensa, e até escreve, a ausência dos que mais amamos não se faz sentir nos piores momentos da vida. Mas nos melhores. Naqueles momentos de profundo júbilo quando uma sombra de saudade surge sem aviso, pronta para roubar o que seria legitimamente nosso por inteiro.